#EDITORIAL: Eleições na SEP - um faz de conta
- Ocupa Palestra
- 24 de set. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 25 de out. de 2021
Carta aberta à coletividade palmeirense em mais um lamentável capítulo para nossa combalida democracia;

O Ocupa Palestra vem alertando, há algum tempo, sobre a urgência de se modificar as bases democráticas e institucionais do Palmeiras. Esse movimento progressista não busca apenas satisfazer correntes de pensamento, mas sim, preparar o clube para a gigantesca transformação que o futebol brasileiro vivenciará nos próximos anos, com multiplicação de receitas e um distanciamento cada vez maior na competitividade entre agremiações.
Olhos mais desatentos podem não captar o que está efetivamente em jogo. É a Diretoria Executiva de nosso clube que orientará suas ações e processos, decidindo entre caminhos críticos que podem nos colocar como líderes de inovação e de transformação no cenário dinâmico do futebol, ou nos jogar para processos arcaicos e ultrapassados de gestão, com resultados catastróficos dentro e fora das quatro linhas. São, portanto, decisões estratégicas, cabendo à boa política resolver e encaminhar essas disputas de forma sadia, transparente e, acima de tudo, com participação de toda torcida.
Nosso processo democrático, entretanto e lamentavelmente, é um grande faz de conta.
A eleição presidencial do Palmeiras, pelo menos em um recorte das últimas disputas, serve apenas para referendar o candidato escolhido pelo grupo no poder.
Não é força de expressão nem hipérbole, mas um fato comprovável: o candidato da situação sempre vence.
Embora mutáveis os nomes em suas composições, grupos alternam-se seguindo sempre a mesma tacanha filosofia, restringindo a abertura política, preocupados principalmente com a manutenção do status quo. Ter ou não um desafiante à candidatura da situação é apenas protocolar - com sorte, extrai-se alguma proposta - uma vez que o resultado já é previamente conhecido. E isso ocorre em um ambiente em que, objetivamente, as seguintes posturas e condutas são encontradas:
tolera-se um amplo e abusivo uso da estrutura do clube (e do seu controle político) para campanhas políticas, sem regramento e nem quaisquer limites. Não há uma regulação do que é permitido ou proibido em nossas eleições, sendo notável a ocorrência de práticas há muito já afastadas dos processos eleitorais para os cargos públicos;
o colégio eleitoral é pequeno, elitista e restrito ao titular da associação, com um elevado tempo mínimo para votar ou concorrer e com um alto pedágio de entrada (pagamento de “jóia”), além de mensalidade;
para que uma pessoa esteja apta a disputar a eleição presidencial, é preciso que atinja 15% dos votos possíveis em um filtro apenas entre os conselheiros (considerando que mais de 10% dos conselheiros sequer aparecem nas reuniões, e que os governos de situação usualmente tem entre 40% e 50% de conselheiros também como diretores, nenhuma oposição, desde que foi instituída essa regra, conseguiu viabilizar mais de uma candidatura num processo eleitoral);
o poder vigente simplesmente ignora demandas de conselheiros que têm por objetivo melhorar o processo. A pauta de mudanças é controlada por pouquíssimas pessoas e acaba por atender quase sempre apenas interesses pessoais ou de pequenos grupos;
Esse quadro nos traz a um tema urgente. É inadmissível que uma campanha eleitoral seja disputada por uma única chapa, não precisando se comprometer com mudanças, debater projetos, construir diálogo ou nem sequer apresentar o que pretende aos associados e à torcida.
É praticamente impossível, ao mesmo tempo, construir qualquer candidatura propositiva que rompa com temas e posturas associados à antiga cartolagem e suas velhas práticas. A desistência do candidato vinculado ao ex-presidente Mustafá Contursi nos dá a clara ideia de como acontecem as coisas: primeiro se inviabilizam quaisquer candidatos a partir de uma composição realizada com alta participação de conselheiros vitalícios. Por fim, retira-se a candidatura horas antes do prazo final, deixando todos de mãos atadas e sem tempo para a construção de alternativas.
Pois bem. No momento em que situação e oposição fracassam em produzir um cenário capaz de discutir os destinos do clube, o Ocupa Palestra renova seu compromisso de aproximar torcida e sócios dos debates políticos e de reforçar a fiscalização sobre seus gestores. Entendemos que o período eleitoral não é o único momento para incidir politicamente com ideias e propostas, e continuaremos, ainda que quase solitariamente, a propor as mudanças necessárias e urgentes que nosso clube merece.
A Sociedade Esportiva Palmeiras merece muito mais, especialmente em seu fantasioso e ineficaz processo eleitoral. Formatado como está, este processo não oferece os debates necessários para o desabrochar de novas ideias ou para o surgimento de novas lideranças - causa, isto sim, estagnação e desestímulo, não contribuindo em absolutamente nada para a grandeza e história do Palmeiras. Perdemos todos nós.
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